Autoridades, especialistas e comunidade se reuniram para abordar os principais riscos da extração de xisto e encontrar maneiras de barrar a exploração na região
Mais de mil pessoas se reuniram ontem (6) em Papanduva (SC), para acompanhar a audiência pública sobre os impactos e riscos da exploração de xisto no Planalto Norte Catarinense. O evento foi uma iniciativa da Comissão de Economia, Ciência, Tecnologia, Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Santa Catarina e contou com a participação da comunidade da região, além de diversos especialistas e autoridades para discutir a possibilidade da extração.
O deputado proponente da audiência, Fabiano da Luz (PT), após receber informações da Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS), do Instituto Internacional Arayara e da Associação de Proteção da Bacia do Rio São João e da Bacia do Rio Papanduva (PRORIOS), iniciou o Fórum Parlamentar das Energias Renováveis, Proteção da Água e do Solo – lançado oficialmente na ocasião. “Já estamos com um projeto de lei proibindo a extração de xisto na região e queremos ouvir de perto o que a população pensa sobre esse modelo tão invasivo e prejudicial ao meio ambiente”, comenta Luz.
O prefeito de Papanduva (SC), Luiz Henrique Saliba (PP), conta que a expectativa é de que seja efetivamente barrada a exploração de xisto na região. “Além de prefeito, sou médico, e a possibilidade de riscos à saúde já deveria ser o suficiente para não implementarmos nada aqui”, conta.
“A grande preocupação é que essa extração trará prejuízos enormes para todos os cidadãos de todo nosso estado. Não se pode destruir a vida, as pessoas, em nome do desenvolvimento”, conta o deputado Padre Pedro (PT). “Me posiciono contra o xisto porque ele contamina enormemente as àguas e o planeta que nós temos o dever e a obrigação de cuidar”, complementa.
Para o deputado Silvio Dreveck (PP), o Planalto Norte é a única região que ainda contém espaço para ampliar a produção agrícola no estado. “Entre o alimento para fornecer à população e a exploração de xisto, obviamente eu defendo a agricultura, os agricultores. O xisto é algo que se explora e depois deixa diversos problemas para a economia e para o meio ambiente, não é possível ficar do lado deles”, explica Dreveck. “Eu acredito que o município não está preparado para esse tipo de extração. Não se deve trocar terra boa e arável, agricultável e produtiva por degradação”, pontua o deputado Dr. Vicente Caropreso (PSDB).
Entrando em detalhes
Além da fala das autoridades locais, a audiência pública em Papanduva também contou com as palestras do doutor em Energias Sustentáveis e Clima, diretor da Coalizão Não Fracking Brasil, Juliano Bueno de Araújo, falando sobre os principais impactos da extração de xisto; do engenheiro ambiental, vinculado à Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Guilherme da Silva Cardoso, abordando o meio ambiente e os recursos hídricos e do geógrafo Luciano Augusto Henning, que abordou a geologia e os riscos da extração para a região.
“Estar presente nas comunidades mostrando de fato o que acontece quando realizamos a extração de xisto – como é feito em São Mateus do Sul (PR), no Canadá e na Índia, é imprescindível para que todos entendam que o perigo realmente bate a porta”, comenta Araújo. Durante sua palestra, Araújo interagiu com os presentes, perguntando se os problemas que poderiam ser causados na região eram o que eles esperavam e desejavam para suas terras. Os participantes responderam em uníssono: “não”.
Visão dos moradores
O morador e agricultor da região, Oderlei Pscheidt, conta que seu maior medo é perder suas terras. “Se isso acontecer – e eu não conto que isso vai acontecer –, nós vamos lutar até o fim. Vamos até o fim nessa batalha, não vamos nos entregar. Até porque se acontecer, só Deus sabe o destino de todo mundo, mas não vai ser bom para ninguém”, desabafa.
Alguns moradores de São Mateus do Sul (PR) também estiveram presentes na audiência pública em Papanduva para apoiar o movimento e contar suas histórias de contaminação e desapropriação por causa da extração de xisto. O agricultor Nelson*, conta que só poderá ficar em sua propriedade até fevereiro do próximo ano. “Nós nos mobilizamos, mas agora não tem muito mais o que fazer. E é por isso que nos solidarizamos tanto com a comunidade do Planalto Norte. De repente a união do povo pode fazer com que esse mal não se instale aqui”, finaliza.
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Paulinne Rhinow Giffhorn — jornalista da Fundação Internacional Arayara e da Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS).
Email: paulinne@professorespeloclima.org
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