
Municípios da região de Paranavaí estão mobilizados contra a exploração do gás de xisto por fraturamento hidráulico, método não convencional altamente poluente e perigoso.
A noite de quinta-feira, 08, não foi de boas notícias para os moradores dos municípios em torno de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, quase divisa com o estado de São Paulo. O subsolo de novas cidades está prestes a ser leiloado pela Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP) para a exploração do gás de xisto pelo fraturamento hidráulico na Bacia Sedimentar do Paraná. Em 2013, a ANP já leiloou blocos que impactam 122 cidades do Paraná e 40 de São Paulo. A previsão é mais 174 cidades dos dois estados tenham o subsolo vendido para a indústria do Fracking na próxima rodada de licitações.
Caminhões vibradores contratados pela ANP estão na região fazendo testes para aquisição sísmica com a finalidade de adquirir informações geológicas e verificar a existência de gás, petróleo, carvão, betume, metano, xisto e outros hidrocarbonetos. Essas informações irão fundamentar a exploração e explotação de hidrocarbonetos na bacia sedimentar do Paraná por Fracking, método altamente danosos à agricultura, pecuária, ecossistemas e impedir o seguro abastecimento público.

Em reunião no auditório da Unespar/FAFIFA em Paranavaí, lideranças políticas, religiosas e gestores públicos, agricultores, empresários, professores, estudantes e moradores puderam conhecer os riscos e perigos do FRACKING. A maioria não sabia dos impactos ambientais, econômicos e sociais desta tecnologia, muito menos que esta ameaça ronda o Paraná e outros 14 estados brasileiros.
“A participação das entidades e movimentos sociais é fundamental para banirmos o Fracking e preservarmos nossas reservas de água, o solo fértil e a saúde das famílias”, enfatizou Juliano Bueno de Araujo, coordenador de Campanhas Climáticas da 350.org e fundador da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida.
Segundo Juliano, o apoio da Diocese de Paranavaí, através do Bispo Geremias Steimntz e do Padre Romildo Neves Pereira, coordenador Diocesano de Pastoral, “irá intensificar a campanha Não Fracking Brasil na região e mobilizar o povo cristão na defesa da água, da produção de alimentos saudáveis e dos seres vivos”.
O Brasil tem um grande potencial para a geração de energias mais seguras e sustentáveis como a solar, eólica, pequenas centrais hidrelétricas e de biomassa. “Não há justificativa para se insistir numa matriz suja e perigosa, que troca água por energia”, completou Juliano.
Perigos do Fracking
Durante a reunião, Dom Geremias Steimntz garantiu que irá mobilizar todas as paróquias para disseminar informações sobre essa danosa tecnologia. “Já está comprovada pela ciência que a exploração do xisto das camadas profundas do subsolo se trata de algo muito perigoso para todos nós”, reforçou.

“Tivemos uma grata surpresa com os dados técnicos da palestra, tanto pela presença como pelos excelentes esclarecimentos das questões feitas pelos participantes. Os esforços da equipe organizadora e a boa explanação do Reginaldo sobre o Fracking trouxe bom esclarecimento ao público”, disse o Padre Romildo Neves Pereira, organizador da reunião e mobilizador.
Parceira e membro da COESUS, a Cáritas Paraná está engajada na campanha contra o Fracking, mobilizando padres, agentes das pastorais e fiéis da Igreja Católica para promover o debate, mobilizar as cidades e pressionar os gestores para provar uma legislação que proíba o fraturamento hidráulico nas cidades.
De acordo com o Presidente da Cáritas Paraná e campaigner da COESUS, Reginaldo Urbano Argentino, “estamos articulando diversas ações práticas nos municípios para alertar e conscientizar a população sobre os riscos que estamos correndo com o Fracking”.
Dezenas de cidades do Paraná já aprovaram projeto de Lei que proíbem a emissão de alvarás para as empresas que forem fazer Fracking; outorga de água para a exploração do gás de xisto, ou gás da morte; trânsito de caminhões com produtos químicos; e testes para aquisição sísmica de hidrocarbonetos.
O que é Fracking
FRACKING é o método não convencional utilizado para a extração do petróleo e gás de xisto. Milhões de litros de água são injetados no subsolo a altíssima pressão misturados com areia e um coquetel de mais de 720 substâncias químicas, muitas delas cancerígenas e radioativas. Além dos impactos ambientais, contaminação das reservas de água, poluição do ar e provocar câncer nas pessoas e animais, a tecnologia também está associada a terremotos.
Para extrair o metano são feitas fortíssimas explosões na rocha do folhelho pirobetuminoso de xisto, provocando a instabilidade do solo. Em regiões onde há uma propensão natural a atividades sísmicas, os abalos são potencializados.
Por Silvia Calciolari
Fotos: COESUS/350Brasil